quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Antinacionalismo, uma praga genuinamente nacional

Antinacionalismo, uma praga

genuinamente nacional


A imprensa brasileira vende e revende, sem parar, um costume nacional algo psicótico, a mania do brasileiro de ser antinacional. Em qualquer situação que não envolva dinheiro, devemos sempre pensar no interesse financeiro e comercial do empresariado antes de pensar em valores “ultrapassados” como a honra e a dignidade da nação.

Há alguns meses, minha filha que estuda na Austrália falou-me dessa praga que tanto constatei em minhas viagens pelo mundo. Ela acabara de iniciar um curso de inglês. No primeiro dia de aula, tendo colegas de todas as partes do mundo, disse ter sentido muita vergonha de seu país.

O professor instou os alunos das diversas nacionalidades a falarem sobre seus países. O francês, o italiano, o japonês ou o árabe, entre tantos numa classe de quase 40 pessoas, falaram maravilhas de suas pátrias. Os únicos que falaram mal do próprio país foram os colegas brasileiros de minha filha.

Fora o Brasil, conheço 15 países (ou mais, agora não estou certo) entre os das Américas, da África e da Europa. Em nenhum deles conheci um povo que faz tanta propaganda negativa de si mesmo como o nosso e que não tenha nem o mínimo do mínimo de patriotismo, palavra que, neste país, é considerada maldita.

Sempre quis saber de onde vinha isso, e agora, nesse episódio da crise em Honduras, começo a entender. O antinacionalismo histérico do brasileiro vem das classes sociais mais altas, que detêm meios de comunicação para venderem suas idiossincrasias de todos os tipos, sobretudo as mais exóticas como o nosso antinacionalismo renitente.

Temos uma elite ignorante como uma porta, neste país. Acha que está abafando ao usar palavras em inglês e em outros idiomas que considera “chique” afetar que conhece. Acha que contar ao mundo como nosso povo é inculto e cafona a torna parte de povos aos quais não pertence. Acha que depreciar o Brasil o tempo todo é prova de sei lá o quê.

Um país pequeno e paupérrimo como Honduras, que, por ação de uma elite que infesta a América Latina, também é atrasado e injusto, decide violar todas as normas do direito internacional e pisotear nosso território na forma de uma representação diplomática enquanto nossa imprensa se dedica a apoiar os ataques dessa potência ao inverso.

Um povo que não ama sua pátria é um povo sem pátria, e quando não se tem pátria não se tem valores, e quando um povo não tem valores só lhe restam a perversão, a corrupção moral, o egoísmo e a futilidade. E o pior é que esses contra-valores vêm das classes sociais que deveriam dar exemplos positivos, em vez de negativos.


Fonte: Eduardo Guimarães, direto de seu BLOG que recomendo: http://edu.guim.blog.uol.com.br

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Governabilidade e atraso político"

Tive a honra de ser aluno do professor Aldo Fornazieri por vários semestres na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. De suas mãos recebi o diploma de formação em Sociologia e Política em 2006.

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"Governabilidade e atraso político", assinado pelo Diretor Acadêmico da FESPSP, Dr. Aldo Fornazieri. Confira o artigo na íntegra.
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Entre a intelectualidade e políticos tucanos e petistas, cada um a seu modo, circula a tese de que ambos os partidos – PSDB e PT – representam as forças modernizadoras do País, mas, quando no governo, precisam aliar-se ao atraso para garantir a governabilidade. As alianças, de fato, são necessárias. O que é altamente duvidoso é que o PSDB e o PT representem um diferencial reformador e modernizante e, nesse sentido, também moralizador – entendendose que transparência e moralidade pública constituem um aspecto importante da reforma modernizadora do Estado.O Brasil, com Fernando Henrique Cardoso e Lula, sem dúvida, andou para a frente. Mas por determinações que, em boa medida, independeram do PSDB e do PT. Em vários momentos específicos, PT e PSDB se posicionaram e votaram de forma a representar o atraso em matérias de economia, de políticas sociais e de reforma política e administrativa. Evidentemente, em outros momentos, votaram e defenderam proposições que representaram avanços modernizadores. Mas os outros partidos também adotaram a mesma conduta ambígua.Na questão da moralidade pública e do combate à corrupção, os dois partidos tiveram a mesma trajetória ambígua e equívoca dos demais. Do discurso moralizador do PT oposicionista sobraram apenas escombros. O PSDB não passa de uma pálida sombra da força moralizadora que rompeu como o PMDB e com o quercismo. PT e PSDB reduziram o discurso moralizador e o combate à corrupção a mero ativo eleitoral e, por isso, a discurso manipulador e de conveniência. Ambos os partidos são tão responsáveis pela crise do Senado quanto outros, ainda mais quando se considera que em 2010 se completam 16 anos de governos tucano e petista. A força que tiveram ou têm no Executivo definia e define o dever de liderar a reforma política e institucional. Preferiram, no entanto, acomodar-se no mesmo sistema de privilégios e de corrupção em que se
congraçam todos os partidos.A tese da aliança entre modernização e atraso para garantir a governabilidade parte de um pressuposto realista. O realismo político, de fato, é necessário para garantir eficácia, resultados e para fugir da impotência das postulações ingênuas. Mas o realismo, para não se tornar cínico, deve vir sempre acompanhado dos princípios da moral pública e da ética republicana de que o fim último da política é o bem público do povo e que isso implica o combate à corrupção, porque a corrupção degrada a República.Quanto o realismo se torna cínico, a política começa a provocar asco e nojo e favorece a disseminação do discurso antipolítico. O Brasil, com a crise do Senado e com um longo rosário de escândalos, parece ter chegado a esse ponto. Basta perceber que os “moralistas” do passado recente confraternizam com os “corruptos” de ontem e de hoje. A situação se complica ainda mais porque nem sempre a disseminação de asco, nojo e discurso antipolítico provoca desconforto nos políticos. Quanto este ambiente se instaura, a corrupção e o cinismo adquirem status de normalidade na vida política.O fato é que tanto o PT quanto o PSDB, tanto Lula quanto Arthur Virgílio entraram mal e continuam mal na crise do Senado. O PSDB e Arthur Virgílio apresentam um déficit de legitimidade moral. O PT também vem perdendo essa legitimidade, além de ser um partido sem norte e sem vértebras. O presidente Lula parece acreditar que a popularidade de que goza o torna isento de qualquer responsabilidade histórica e parece estar confundindo a fama do momento com a imorredoura glória que deve ser buscada pelos grandes estadistas e pelos grandes líderes. Somente essa confusão parece explicar o seu aval ao estado de coisas degradante do Senado.Ao que parece, o poder fez muito mal tanto ao PSDB quanto ao PT. A potência modernizadora de que estavam imbuídos se erodiu. O PSDB tornou-se uma cabeça sem corpo e um corpo sem cabeça. Não há sinergia entre os cardeais que dirigem o partido e a militância que quer ter um partido. O PT caminha a passos largos para se transformar num PMDB de esquerda, estadualizado, fragmentado, sem substância nacional e sem liderança capaz de produzir e de conduzir um projeto de país.Desta forma, tal como o governo FHC representou o apogeu da potência transformadora do PSDB, o governo Lula parece estar representando o apogeu da potência transformadora do PT. Um ou outro (PT ou PSDB) poderá ainda governar o Brasil no próximo período, mas numa trajetória de declínio, não só do partido que vencer as eleições, mas de fraqueza do próprio presidente que se elegerá. Para que esse vaticínio não se concretize seria necessário não só refundar os dois partidos, mas também reformatar as lideranças que estão aí, tornado-as aptas a reagrupar as formas reformadoras, modernizantes e moralizadoras em torno do futuro governo.Como essa perspectiva parece ser bastante duvidosa, vários segmentos sociais e políticos buscam uma alternativa capaz de fazer uma crítica ao PT e ao PSDB. Essa alternativa, neste momento, certamente não será encarnada por nenhum partido, mas poderá sê-lo por uma personalidade. É por isso que a perspectiva da candidatura de Marina Silva provoca entusiasmo em vários setores.Mas para que essa alternativa se concretize serão necessários movimentos de difícil execução: fugir ao exótico capacidade de agrupar as forças reformadoras dispersas em diversos partidos, apresentar um programa que compatibilize o desenvolvimento com um novo paradigma tecnológico e com as demandas sociais e ambientais e capacidade de dialogar e atrair diversos grupos sociais. Se essa alternativa se concretizar, ela fará bem não só à política brasileira, mas também ao PT e ao PSDB, pois estes serão provocados a frear seus apetites e refundar seus projetos.