Nesta semana, o Brasil atrai, novamente, a atenção do mundo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em mais uma viagem internacional e, amanhã, desembarca em Teerã, capital do Irã, para visita de dois dias. A visita desperta sentimentos variados, elogios declarados e críticas furiosas.
Sem dúvida, a iniciativa é ato corajoso da diplomacia brasileira. Mais especificamente, de uma diplomacia presidencial, que se tornou uma das características das relações internacionais ao projetar, através do governante, o prestígio e a liderança do país.
O Irã tem 70 milhões de habitantes. Desde a pré-história, é palco de disputas entre impérios estrangeiros. Rico em petróleo, foi invadido durante a Segunda Guerra Mundial pelos exércitos russo e britânico, com apoio dos norte-americanos. Território estratégico e de grande importância geográfica, com acesso às mais importantes rotas marítimas do petróleo árabe para o mundo ocidental, está no centro de perigoso jogo de forças internacional.
Situado praticamente a meio caminho entre o Ocidente e a Ásia, na vizinhança do Oriente Médio e próximo de potências atômicas regionais como Israel, Índia e Paquistão, o Irã desenvolve um programa nuclear que é criticado e desperta apreensão. Nesse cenário, e sob as vistas do mundo, o presidente Lula chega a Teerã disposto a obter acordo na área nuclear com o colega Mahmoud Ahmadinejad.
Em linhas gerais, o acordo consiste em convencer o Irã a enriquecer, em outro país, o urânio do qual necessita para a produção de energia nuclear. O governo iraniano insiste que sua intenção é pacífica e que não deseja fabricar bombas atômicas. Porém, há uma desconfiança generalizada por parte de muitos países, tendo em vista a natureza política do regime iraniano e as constantes ameaças que dirige aos Estados Unidos e Israel.
A aproximação do Brasil com o Irã, nas atuais circunstâncias, constitui lance ousado do Itamaraty e oferece riscos à posição brasileira no cenário mundial, na avaliação da imprensa nacional. É o que pensam também especialistas em política internacional. Nossa diplomacia, historicamente, tem sido pródiga em iniciativas corajosas, que, embora despertassem desconfiança e críticas a princípio, afinal acabaram por demonstrar o acerto.
Hoje, louvamos a atuação corajosa de Oswaldo Aranha, nosso representante na ONU quando, em 1947, presidiu uma difícil sessão que deliberou pela criação do Estado de Israel. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência da socialista Angola, consolidando laços com a África, em plena Guerra Fria, período de extremado antagonismo ideológico.
Nessa mesma época, o governo adotou uma linha de relações internacionais independente e corajosa — o mesmo governo que foi capaz de romper um tratado militar com os Estados Unidos, atitude quase impensável, ainda mais partindo de um regime autoritário que ascendeu contando com forte apoio norte-americano.
Nossa diplomacia tem oferecido ao país mais acertos do que erros. A conformação atual do mapa brasileiro foi resultado de atuação vigorosa — e não isenta de críticas — conduzida com energia pelo patrono Barão de Rio Branco, responsável pela intensificação da nossa presença no cenário mundial.
Atualmente, apesar da aproximação maior com alguns de nossos vizinhos latino-americanos — Argentina, Equador, Bolívia e Venezuela, especialmente — relações que em alguns momentos foram marcados por episódios tensos, nossa diplomacia não compromete o país, ao contrário, afirma a liderança continental. O Mercosul é realidade, iniciativa brasileira, resultado de processo complexo e difícil, pleno de obstáculos. Porém, mesmo com equívocos que clamam por ajuste na construção do bloco regional, o Mercosul segue o caminho.
Enfim, o Brasil se mantém fiel ao ímpeto negociador e pacificador, padrão que norteia nossa diplomacia desde Rio Branco, “ultimo grande representante da escola de estadistas do século 19 brasileiro”, como diz Rubens Ricupero, um de nossos grandes diplomatas e pensadores. A diplomacia brasileira, hoje, é resultado e ao mesmo tempo artífice de uma política externa que projeta o Brasil e o habilita a lançar-se em processos de envergadura. É o caso da visita de Lula ao Irã. Esperamos, sinceramente, que tenha sucesso. A iniciativa poderá contribuir muito para a garantia da paz mundial.
(*) Pedro Simon é Senador pelo PMDB do RS
Artigo pulicado no jornal Correio Braziliense - Opinião