sexta-feira, 8 de abril de 2011
A Sociedade Brasileira no Divã...
Proponho que nós, sociedade brasileira, sejamos conduzidos ao divã de nossas consciências antes que o estampido dos disparos dados naquele colégio do Realengo sejam abafados pelos rojões de nossos festejos onipresentes...
Em Sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade
A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação amistosa com outros". Societas é derivado de socius, que significa "companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesse ou preocupação mútuas sobre um objetivo comum. Como tal, sociedade é muitas vezes usado como sinônimo para o coletivo de cidadãos de um país governados por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico.
Isso posto, fica claro que o jovem atirador que atendia pelo nome de Wellington não se enquadrava nessa definição idealizada de sociedade.
A grande ironia é que, se na origem da palavra "sociedade" encontramos como derivação o termo "companheiro", vem à tona com as primeiras investigações que a companheira mais presente do jovem Wellington era a solidão.
O dado concreto é que essa tragédia é "apenas" mais um dos sintomas de uma sociedade doente, que se recusa a admitir sua enfermidade e, pior, se tratar dela.
Tais episódios se reproduzem à partir de um modelo de sociedade que escolhemos para viver, onde o coletivo é sacrificado em prol do individual.
Uma sociedade que enaltece o ter em detrimento do ser, que segrega, que se auto afirma por meio do consumismo desenfreado em busca de um mínimo senso de pertencimento, só pode estar gravemente enferma.
Mas quem quer romper com este modelo que tem no dinheiro um elemento diferenciador, onde sua posse confere senso de poder e dominação?
Outro sintoma de uma sociedade doente é a ausência de uma reflexão objetiva diante de suas tragédias.
O fato é que internalizamos uma cultura valorizadora de coisas e não de gente. O outro, que, em interação comigo, deveria ser meu próximo e com isso conferir sentido à sociedade, tornou-se meu concorrente e por extensão meu inimigo.
As relações se tornam cada dia mais impessoais e hostis num ambiente de competição desmedida em que o objetivo é sempre superar o rival.
Não é essa a mensagem explícita das propagandas que seduzem a classe média de forma a alimentar o círculo vicioso da pseudo superioridade? Quem se contentará em ser um mero cliente de banco quando se pode ser "Exclusivo", "Premier", "Personalitè", "Van Gogh" ou um finado "Uniclass"? Numa palavra, "ser alguém" em meio à gentalha que compõe as massas...
E o que dizer da indústria do cinema que produz filmes como "A procura da felicidade", onde seu protagonista é um pobre solitário obcecado pela idéia de enriquecer por julgar estar nela, na riqueza, a felicidade, mesmo que para isso sacrifique suas relações pessoais, inclusive o casamento?
Aí está o elemento desagregador da sociedade, a idéia de que existem pessoas melhores que outras em função do acúmulo de capital.
A tragédia do Realengo, por trágico que seja, não me parece páreo contra os interesses que movem o capital e que excluem milhares de "Wellingtons" pelo mundo afora condenando-os à invisibilidade e à solidão.
Quanto às crianças alvejadas, talvez o maior consolo seja o fato de estarem livres dessa sociedade doente e em franca decadência. Torço para que elas tenham se transformado em estrelas... que embelezem nosso céu...Assim teremos para onde olhar enquanto, deitados nesse divã, choramos nossa culpa, nossa inversão de valores, nossa promiscuidade social...na companhia do Cristo, que um dia chorou ao avistar Jerusalém e que hoje chora diante do Realengo...
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