“O Homem é o lobo do homem”.
Com esta frase Thomas Hobbes teoriza sobre a necessidade do
que viria a ser conhecido como Estado Moderno. Com seu aparato policial
repressor, o Estado evitaria a guerra de todos contra todos domesticando a alcateia
embrutecida por seu estado de natureza.
Sabemos que o Estado dispõe de outros
elementos em seu aparato de controle social, como a escola, a religião, família
e a própria socialização em si. Mas, é no monopólio do uso da força que
verificamos toda a monstruosidade do Leviatã e sua eficiência em manter
confinado o estado de natureza desses pobres lobos com sua tendência à autodestruição.
Paradoxalmente, porém, cada vez mais o Estado, embriagado em sua onipotência,
parece subestimar a força e a paciência dessa alcateia, de quem o glorioso Zé
Ramalho canta atribuindo outro coletivo.
Nessa semana os paulistanos tiveram que enfrentar uma greve
de metroviários e de funcionários da CPTM. A paralisação em si talvez não
gerasse tanta indignação, não fosse o fato de toda semana, praticamente
haverem, paralisações de outra ordem, a saber, ordem técnica. Tantas têm sido que
um representante do governo tucano apressou-se em falar em boicote ao sistema.
Nenhuma palavra, no entanto, sobre o sucateamento da rede ferroviária estadual.
As queixas são inúmeras, desde o preço da passagem, até
lentidão e superlotação dos vagões. A indignação dos usuários, no entanto, não
ameaça converter-se em rebelião.
O Leviatã parece apostar não só na sua eficiência repressiva,
mas também numa espécie de “paciência de Jó” da parte dos lobos hobbesiano, no
que talvez não esteja de todo errado.
Até houve uma tentativa de paralisação da Radial Leste por parte
de alguns usuários insatisfeitos, mas ficou só na tentativa mesmo. O Leviatã
não suporta “importunação da ordem pública” e, de pronto, mostra suas garras. A
polícia logo chega com sua típica intervenção (bomba de gás lacrimogêneo) e
afugenta os lobos insubordinados de volta às suas tocas.
Lobos, pobres lobos,
como ousam desafiar o Leviatã?
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos trata
brilhantemente essa questão em seu livro “Horizonte do Desejo”, onde afirma que
os pobres escolhem não se revoltar ante a ameaça de “punição social”. Ou seja,
os pobres lobos não tem a temer “apenas” o Leviatã, mas seus próprios pares,
afinal, Hobbes não tinha como prever que a sociedade de lobos seria dividida em
classes.
O preço a se pagar pela indignação convertida em ação social
mal sucedida é caríssimo, pelo que as pessoas preferem ficar apenas na
indignação a pensar em formas de tornar tais ações bem sucedidas.
O dado concreto é que a população brasileira e o
comportamento da sua gente mais desfavorecida engrandece demais o poder do
Estado.
Que o Leviatã não se empolgue, entretanto. Os lobos por mais
domesticados que estejam, ainda são lobos,
por hora...
por hora...
...pobres lobos.
Marcello di
Paola